“Um só me assedia sempre excessivamente (assim pensa o
solitário). Um sempre acaba por fazer dois!”
Como
se poderia suportar isto se não houvesse um amigo?
Ai! Existem demasiadas profundidades para todos os
solitários.
Por isso aspiram a um amigo e à sua altura.
O nosso desejo de um amigo é o nosso delator.
E freqüentemente, como a amizade, apenas se quer saltar
por cima da inveja. E freqüentemente atacamos e criamos inimigos para ocultar
que nós mesmos somos atacáveis.
(...)
Serás tu para o teu amigo ar puro e soledade, pão e
medicina?
Há quem não possa desatar as suas próprias cadeias, e todavia seja
salvador do amigo.
És tirano? Então não podes ter amigos.
Há demasiado tempo que se ocultavam na mulher um escravo
e um tirano. Por isso a mulher ainda não é capaz de amizade; apenas conhece o
amor.
Mas dizei-me vós
homens: qual de vós outros é, porventura, capaz de amizade?
Ai, homens! que pobreza e avareza a da vossa alma! Quando
vós outros dais a vossos amigos eu quero dar também aos meus inimigos sem me
tornar mais pobre por isso.
Nietszche, in "Assim falava Zaratustra".
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